segunda-feira, janeiro 22

Remando contra a maré

Ao chegar junto do automóvel de um colega, soterrado pelo pó, escutei com atenção o seu comentário indignado: “de que vale lavar a merda do carro se no dia seguinte está sujo outra vez?”.
Tal interrogação teve eco profundo no meu íntimo. Na verdade, passamos as nossas vidas executando tarefas cíclicas que, independentemente da nossa vontade, não deixarão de ser isso mesmo, iterações infindáveis.
Assim, de que vale cortar as unhas, o cabelo e a barba se estes voltam a crescer? Qual o propósito de lavar os dentes se o teremos de o voltar a fazer após cada refeição? Para quê insistirmos em esvaziar os testículos se eles retomam os níveis de sémen anteriores? Enfim, de que vale viver se a prazo estaremos mortos e enterrados?
A resposta é simples, estou-me bem nas tintas para as rotinas maçadoras da vivência humana enquanto puder ficar, repetitivamente, a beber o meu gin tónico, debicar uns cajus e a ver o Atlético a eliminar o Porto da taça.