quinta-feira, junho 29

Cais de abrigo

Com a nobre missão de auxiliar a re-integração da população sem-abrigo nasceu, em meados dos anos 90, a revista Cais.
Esta interessante publicação mensal made in Portugal, enraizou-se e amadureceu.
Contudo, o que parecia a priori um método nobre de promover a quebra de assimetrias sociais, tornou-se apenas na maneira mais rápida e prática de reconhecer um drogado.
Parei outro dia junto a um dos 236 semáforos da Av. Estados Unidos da América, a meio de uma manhã verdadeiramente tórrida. De vidro aberto e a desbundar com o último trabalho dos Good Riddance, nem dei por um dignitário da Cais abeirar-se da minha viatura.
Virei a cara e enfrentei o bicho: moreno, 2 dentes em 32, tatuagem artesanal de desenho imperceptível. Balbuciou umas palavras e abanou um exemplar da revista. Disse-lhe um “não” amigável e desviei a atenção. O indivíduo, de olhar vidrado, continuou a tentar expressar-se e eu a ignorá-lo delicadamente.
Eis que a besta pousou a sua mão livre (e suja) na porta do meu carro. Acordado do meu estado de letargia, berrei um “NÃO, FODA-SE!” no preciso momento em que o guitarrista Luke Pabich se preparava para soltar o grande riff da malha “Rise and Fall”.
Aproveitando o facto do sinal estar verde, brindei o indigente com uma arrancada que só um motor 1900 de origem Volkswagen consegue proporcionar.

1 Comments:

At 10:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Discordo por completo...
Se isso lhe aconteceu é porque teve "azar". É compreensivel que, passando por coisas que provavelmente nenhum de nós sabe o que é, o Trabalhador tenha atitudes menos correctas, apanhando um cliente aleatório e em desespero de causa, insista incansavelmente para que este compre a revista.
Lanço ainda o meu respeito por aqueles que trabalham (ou tentam trabalhar) apesar das suas limitação, enquanto existem neste pais pessoas que, com todas as condições, face a empregos modestos, dizem para si:"Isto não é para mim".

 

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