sexta-feira, agosto 11

A nobre arte de mendigar

Numa sociedade onde o capitalismo selvagem venceu e as preocupações sociais estão longe de serem prioridades, mendigar surge como o último reduto dos excluídos, a derradeira fronteira da miséria humana.
Porém, mesmo neste estado extremo de pobreza, há regras e comportamentos padronizados a respeitar.
O cheiro é um atributo primário. Para mendigar segundo os cânones clássicos há que ter passado, no mínimo, 6 noites a dormir numa sarjeta, permitindo que a marinada de urina e dejectos forme um aroma constante, resistente à pluviosidade e ao banho esporádico no centro de abrigo.
O vestuário constitui-se como o elemento-chave na definição do status do mendigo. É dada preferência a tons castanhos, em artigos estrategicamente descosidos em 15 locais diferentes e globalmente muito sujos.
A preparação da noite é de extrema importância, pelo que as célebres mantas e os cartões provenientes de frigoríficos se assumem como pedras basilares na agenda diária de um maltrapilho.
A barba pulguenta, o cabelo oleoso a dentição incompleta, além de um garrafão de vinho tinto Afonso III (com a volumetria padronizada de 5 litros) completam a panóplia de adereços requeridos.
Depois, é cada um por si... olhar vidrado, andar manco e lento, posição curvada e frases expressivas como “Os do guberno irem todos pá puta cus pariu!” só se adquirem com o passar dos anos e o apurar da experiência.

2 Comments:

At 12:57 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Tens ai um bugalhoto: "..., permitindo para que a marinada de urina..." ai no permitindo para que...

 
At 7:23 da tarde, Blogger DR said...

obrigado, vou já desbugalhá-lo

 

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