A glória dos idosos

A terceira idade está, como sabemos, unicamente dedicada à importante tarefa de coçar a micose até que esta degenere em gangrena. Sadismo à parte, parece-me consensual que os idosos deste país não desempenham qualquer tarefa produtiva (tenho como certo que limpar o pó e alimentar os gatos estão longe de se constituírem actividades críticas… a vida continua com casas sujas e animais de estimação esfomeados).
Nesta tristeza que é a viver entre artrites, artroses e os gritos histéricos da Júlia Pinheiro, restam poucos fogachos de auto-estima aos septuagenários da nação. Salva-se talvez um ritual, comportamento transversal a toda a “brigada do reumático”: levantar cedo, bem antes das galinhas ou de qualquer outro ser vivo.

“Às 6:30 já estou a pé e de pequeno-almoço tomado!” – disse-me de indicador em riste e em tom de revolta um septuagenário conhecido.
“Às 6:30 ainda estou sóbrio e a bombar no Lux” – respondi com desdém.