domingo, junho 22

Humor negro

Do operário ucraniano que escorrega e parte uma perna aos autarcas pouco honestos que desbaratam as finanças camarárias, passando pelos maridos enganados que descobrem um amante peludo no armário, as fronteiras do humor estão perfeitamente definidas. O mundo dos vivos pode por ora ser explorado sem pudor, estando o reino das almas penadas vedado às farpas do parodiante.
Na morte tudo é triste e enfadonho. O que seria de esperar de um estado cujo apogeu decorre num cemitério lotado, ao som de pazadas de solo argiloso, gritos histéricos e choro convulsivo?
Tendo por base os reports fidedignos dos mediums da praça, sentido de humor é algo que tem faltado aos representantes do além. Conviver diariamente com Judas e Hitler deve ser deprimente à brava... para mais, comunicar a localização do tesouro do Barba Ruiva e o paradeiro do Elvis requerem sobriedade e protocolo.

Não me tenho por hipócrita, ficando por isso registado neste espaço a minha predisposição para aceitar pacificamente toda e qualquer piada sobre o meu estado cadáver. Estou certo que, se as tiradas forem boas e madeira da urna medíocre, será possível escutar o meu riso cúmplice.