As luzes da ribalta
De volta à blogosfera, não poderia deixar de partilhar a experiência que vivi hoje à hora do lanche.
Desloquei-me à copa da empresa para lavar uma maçã, quando me deparei com uma enorme algazarra: 15 pessoas especadas em frente ao televisor, num estado de concentração absoluta e pouco disponíveis para devolver o meu “boa tarde”.
“Pensava mesmo que Portugal só jogava na sexta”, meditei por momentos. Qual não é o meu espanto quando me informaram que o colega João Paulo estava a ser entrevistado no programa “Vida Nova”, uma espécie de “Tardes da Júlia” à moda da SIC, onde pontifica esse vulto da comunicação que dá pelo nome de Fátima Lopes.
Se não me falha a memória, 24 horas antes o senhor em questão estava a lanchar sozinho na mesa do canto. Hoje, fruto da exposição mediática, tem mais de uma dezena de colegas rejubilando com cada um dos seus gestos e aplaudindo comovidamente as suas palavras. Já para não falar da menina da recepção, que correu apressadamente para levantar a máquina e fotografar a obra “João Paulo + LCD”. São peças de arte que em separado têm pouco valor comercial.
Eu aproveitei a dica e, discretamente, captei uma imagem do circo com a câmara do telemóvel. Talvez imprima o recuerdo e o exiba quando algum dos presentes me responder: “agora não te posso atender porque que estou cheio de trabalho”.
É um facto, as luzes da ribalta iluminam as formas de vida mais sombrias, desde os desejos reprimidos dos adolescentes de Mirandela que contemplam os seios da professora na Playboy, até ao voyerismo dos colaboradores de uma consultora, indivíduos adultos e cinzentões, que assistem em êxtase à participação de um colega num show televisivo.
Aos primeiros, o meu grande “bem haja” por não terem ainda embarcado nas aclamadas “homo-aventuras”; aos segundos, sempre posso sugerir a procura de um trabalho mais estimulante ou de acompanhamento médico especializado.