quinta-feira, janeiro 24

Fondue de chocolate

Servem estas linhas para relatar a minha participação recente numa experiência prazenteira e animada onde o fondue de chocolate da minha namorada assumiu lugar de destaque.
Dado o uso intensivo e descontrolado do aparelho, cifrado na colocação ininterrupta de pedaços do melhor cacau para culinária na porcelana principal, já quase se gastou a vela de origem. Pude efectivamente provar e atestar que bananas, mangas, tangerinas, e bolachas “língua da sogra” combinam na perfeição com o creme sedoso da tablete Nestlé.

Estou há dias a tentar decifrar o comentário da minha miúda: “havias de besuntar o chouriço no chocolate... fazíamos um festim!”. É estranho, nunca fui dado a paladares agridoces.

sábado, janeiro 19

Fondue

De cada vez que me cruzo no aparelho de fondue, estrategicamente colocado no topo de um dos armários da cozinha, penso: “qualquer dia faço uma petiscada à maneira”. O certo é que em quinze anos de existência aquele maravilhoso acessório foi usado menos de três vezes.
Constato com preocupação que tal situação não é virgem pois todas as pessoas que cometeram o erro de comprar um padecem de semelhante patologia. De facto, o fondue é um daqueles utensílios que não descansamos enquanto não temos mas parece que, depois de usarmos uma vez, enterramos para sempre num canto da casa e nos confins da memória, qual recordação de um tio severo que tentou abusar de nós enquanto crianças*.

Ofereceram recentemente à minha namorada um exemplar dedicado à confecção do chocolate. Estou curioso em saber se este espécime vai seguir a triste sina do seu parente para carnes.


*exemplo ilustrativo

sábado, janeiro 12

O aeroporto da discórdia

Apesar de já tomada a decisão, parece não existir ainda consenso total quanto à localização do novo aeroporto de Lisboa. Ota, Alcochete e “Portela+1” são as principais achas para esta fogueira de milhões.
Quanto mais graduado e entendido é o interveniente na discussão, mais dúvidas e obstáculos levanta ao output final deste dilema. Assim, fará talvez sentido reposicionar agulhas e pedir opinião àqueles que, pouco ou nada versados em equações, se recorrem da sensibilidade quotidiana para aferir os destinos do país.

E dizia uma colega de trabalho à hora de almoço: “Alcochete? Nem pensar... nasci lá!”. No momento em que aludi à sobrelotação da Portela a curto prazo, referiu: “Construam mais locais para as bagagens”. Bem visto, não haja dúvida. Falta só resolver o problema do fluxo crescente de aviões: “Que esperem no ar como fazem nos outros aeroportos”, ouvi embasbacado.

domingo, janeiro 6

A “estrelinha”

Para se ganhar no futebol é necessário reunir um conjunto de factores: uma equipa raçuda e eficaz, um treinador disciplinador, uma massa adepta verdadeiramente fanática, um presidente aldrabão e com ligações ao submundo, arbitragens caseiras a la António Rola e, é claro, a “estrelinha”.
A “estrelinha” não é mais do que a encarnação física da sorte, sendo responsável pelas bolas que batem no poste (quer entrem ou saiam), pelos jogadores que se lesionam, pelas escorregadelas dos defesas centrais e pelo resultado da conversão dos pontapés da marca de grande penalidade.
Os dois grandes óbices da “estrelinha” são:
- Tão depressa aparece como desaparece;
- Se ganhámos, mencionar a estrelinha roubará brilho ao triunfo.

Estou seriamente tentado em usar “desculpa da estrelinha” nos meus afazeres profissionais. Para o próximo cliente insatisfeito reservarei o comentário: “Sabe, as análises que lhe apresentámos foram meticulosamente validadas, faltou-nos porém a estrelinha para que a recomendação final fosse a mais acertada”.