segunda-feira, dezembro 31

Assédio sexual

Uma leitura cuidada das leis do país e do regulamento interno da empresa onde presto serviço levou-me a concluir que o simples facto de olhar por mais de 3 segundos para uma funcionária poderá ser entendido como assédio sexual. Por sorte as minhas colegas são condescendentes pois (e pese o facto de nunca ter passado a actos físicos) já excedi todos os limites na contemplação de decotes (que, em abono da verdade, deveriam ser igualmente alvo de castigo por atentado ao pudor).
Vejamos, se tudo o que se faz e diz no local de trabalho pode ser entendido como um atentado à moral e aos bons costumes, como poderei resistir à expulsão se decidir cumprimentar uma administrativa mais roliça com um movimento em que o conjunto “mão+braço+antebraço” desce de uma posição horizontal elevada, realizando um quarto de círculo em chicote e atingindo as nádegas de forma seca?

quarta-feira, dezembro 19

Egrégios avós

No rescaldo da cimeira de Lisboa entristece-me constatar que, apesar da onda europeísta estar desde 1986 a inundar as nossas vidas, continuamos ainda bem agarrados à desengonçada prancha lusitana (que dificilmente nos levará a bom porto).
O hino permaneceu como um dos mais importantes símbolos da nossa identidade nacional. Os reformistas, ainda que resignados à melodia de Alfredo Keil, já propuseram alterar a letra de Henrique Lopes de Mendonça, procurando certamente uma melhor adaptação do seu conteúdo às cruzadas do quotidiano.
Acredito sinceramente que as palavras pouco importam na presença de uma melodia sinfónica antiquada, facilmente cantável de mão ao peito. Basta recordar imagens recentes de 15 “lobos” vociferando comovidos: “Ó pátria sente-se a voz / Dos teus egrégios avós”. Quase aposto que a esmagadora maioria nem faz ideia do que egrégio quer dizer.

sábado, dezembro 15

Castanhas quentes

O Outono marca todos os anos o regresso do homem de castanhas. Disfarçado de vendedor de gelados durante o período estival, recicla o vestuário em aterro para trajar de acordo com a tradição.
O carrinho e a caçarola parecem tirados de um livro de Hans Christian Andersen... o choque tecnológico passou decididamente à margem do comércio de castanhas.
O facto é que estes hábeis comerciantes auferem bem mais do que os piratas do século XXI (vulgo arrumadores drogados) dado que a dúzia deste fruto capsular espinescente há muito suplantou a gratificação do parqueamento.
Sabendo-se de antemão que estes pseudo-mendigos não convertem os avultados honorários em heroína, facilmente compreendemos que, acabada a hora do expediente, troquem a farda de trabalho por um blusão de cabedal e partam de Mercedes para o conforto dos seus lares.

sexta-feira, dezembro 7

A festa da taça

É dia de sol. Joga-se para a taça de Portugal, tendo ditado o sorteio que um primodivisionário receba um digno representante dos escalões inferiores. Este último chega ao local 6 horas antes do evento, mesmo a tempo da comitiva se banquetear com uma grelhada mista, bem apurada pelo punho experiente do massagista. Para acompanhar, nada melhor do que a pinga regional, sabiamente armazenada na bagageira do autocarro.
O certo é que a rapaziada saloia “come a relva” quando entra em campo, contrastando com a atitude sobranceira dos visitados que, para além terem deixado os titulares na bancada, decidiram não sujar os calções e brincar às experiências tácticas de pré-época.
Resultado final: 0-1, e está feita a surpresa!
Enquanto os adeptos dos da casa se entretêm a decapitar o treinador e a apedrejar os Porsches dos jogadores, os visitantes regressam ao seu transporte para, meios nus, cantarem abraçados os hinos brejeiros da aldeia enquanto rematam a bebida que sobrou do almoço. É fundamental que a goela esteja a 100% pois a chegada à “santa terrinha” coincidirá com uma ceia bem regada, à qual não faltarão o presidente da Junta e um jornalista da SIC Notícias.

segunda-feira, dezembro 3

“Rabetas” (ou talvez não)

Foram reportados inúmeros casos de chefes de família que, alguns anos após terem dado o nó, se revelam uns “rabetas” convictos. O casamento tradicional não é pois um atestado de inquestionável masculinidade, nem sequer do gosto por seres de sexo oposto.
Assim sendo, apraz-me questionar a homossexualidade de um indivíduo que decida oficializar o relacionamento com um cabeleireiro dado a “abafar a palhinha”.