O poder infinito dos raios laser

O maior poder que existe na Terra não é certamente Deus, Ele nada pode contra a divina magnificência dos raios laser.
A hexalogia Guerra das Estrelas deu o mote, o povo anseia pela sua chegada. Quer se trate de uma operação corriqueira às cataratas, ou de destruir uma bolsa talibã em Kirkuk, o laser entra ao serviço das causas nobres.
Fico então a aguardar que tal tecnologia possa finalmente solucionar a grave atraso estrutural do nosso país e, se possível, revelar no chão do meu quarto a próxima combinação milionária do Euro Milhões.

Erros de casting

As novelas portuguesas, grande entretém dos que não são pró-futebol ou suficientemente machos para apontar a porta da cozinha à esposa, são, em teoria, espelhos da nossa sociedade. Contudo, não me parece que estejam a seguir à risca os padrões bem vincados do mundo real que habitamos.
Perguntava, e com muita razão, um amigo meu: “mas será que alguém lê o jornal em casa de fato e gravata?”. Mais, o que é feito das gajas feias? Elas andam em força no país de verdade mas estão desaparecidas das telenovelas.
Os dentes das personagens, independentemente do estatuto social, estão sempre imaculadamente brancos, as casas não têm pó e, embora povoadas por jovens radicais, aparentam sempre uma arrumação irrepreensível.
Mas que realidade vem a ser esta em que nunca ninguém se engana a falar, solta perdigotos, ou tosse? As meninas acordam já maquilhadas e não me lembro de alguém ser apanhado a limpar os sanitários ou a fazer compras no LIDL.
Para além de tudo isto constato que, apesar da crise que varre o país, a classe média se encontra estranhamente endinheirada... jardineiros, mordomos e motoristas já nem os ricos têm!

O dilema da fartura

Estacionar o automóvel num parque público ou privado traz recorrentemente o mesmo dilema: qual o lugar mais próximo das escadas do centro comercial, mais “à larga” e junto a uma caixa de pagamento? Meus caros, tal rectângulo existe mas está ocupado pelo proprietário de uma 307 SW preta que se faz passar por deficiente, quando a única deficiência que tem é a de não compreender que as regras existem para serem cumpridas.
Partindo desse axioma, podemos tipificar duas situações comuns: quando procuramos um buraco num parque quase lotado e encontramos apenas um, ainda que bem apertado, avançamos impetuosamente para o garantir, num movimento vigoroso que afastará outros pretendentes; porém, quando reina a abundância e não resta um mas mais de uma vintena de avantajados casulos, hesitamos. Não ficaremos satisfeitos com nada menos que o melhor, pelo que prolongamos as buscas por cinco longos minutos até compreender, finalmente, que os lugares são todos iguais e que não merecem tanto capital de atenção da nossa parte.