segunda-feira, fevereiro 25

Engenheiros e Doutores

A antiga estrutura simplificada de classificação honorífica dividia os licenciados em dois grandes subconjuntos: engenheiros e doutores. Os primeiros deveriam ter concluído estudos superiores em engenharia, enquanto os segundos outro qualquer grau universitário.
Foi-me recentemente explicado que o título de engenheiro deverá apenas ser atribuído a licenciados em engenharia inscritos na respectiva ordem. Apesar de ter terminado a licenciatura em civil numa escola bem mais reputada do que a do Primeiro Ministro, não prescrevo esse importante requisito, o que, entre outras severas punições, me inibe de pagar uma avultada quota anual e me retira o prazer usar a Ingenium para acender a lareira no Inverno.
Encontro-me assim sobrevoando uma fronteira nebulosa, de onde vou aterrando à vez na condição de engenheiro, de doutor e de “pst ó jovem”. Dado que este limbo é propenso a equívocos embaraçosos, decidi abraçar a carreira religiosa, partindo em busca do título que sempre almejei e que melhor se coaduna com a minha superior condição intelectual: Monsenhor.

domingo, fevereiro 17

As estatísticas do futebol

Reformados os três reis magos do relato futebolístico televisivo (Rui Tovar, Artur Agostinho e Gabriel Alves) foi rapidamente formada uma panóplia de ilustres séquitos, ansiosa por dar continuidade ao disparate em directo.
Como é possível metralhar durante 90 minutos disparates como: “a bola saiu” ou “vai ser marcado um canto”? Estes senhores estão firmemente convictos de que acrescentar valor é propalar as evidências.
Em complemento a esta atitude descritiva, os nossos eloquentes comentadores brilham ainda no capítulo “estatísticas do futebol”, de onde podemos desenterrar pérolas como: “A equipa da casa não perde quando o jogador que marca o primeiro golo tem menos de 1,75m, toca saxofone e é filho de um militar na reserva.”

sábado, fevereiro 2

O delírio da esplanada

Transversal a qualquer moda passageira, o delírio da esplanada veio para ficar. Sou diariamente surpreendido por gente ponderada e instruída que, de olhar inquieto e coração palpitante, procura mesa na “lá fora”, onde já se instalou 80% da manada.
Confesso nada ter contra esplanadas, julgo até constituírem uma oportunidade sublime para desfrutar sossegadamente do ambiente bucólico, saboreando um vinho de eleição. Fico contudo bem mais céptico quando o cenário disponível passa por apanhar um "frio de rachar" ou um “calor de ananases” numa cidade suja e hostil, partilhar um espaço exíguo com dezenas de pessoas barulhentas, sentar-me numa cadeira de plástico suja de caca de gaivota ou colocar calços de cartão numa mesa desengonçada enquanto uma rajada de vento faz desaparecer o guardanapo que acabei de usar.