terça-feira, janeiro 31

Pode dar jeito…

“Pode dar jeito” é o conjunto de 3 palavras mais perigoso a seguir ao “vai à merda” dito a um porteiro de discoteca. Com o “pode dar jeito” enchem-se gavetas, guarda-fatos, dispensas inteiras, marquises e arrecadações.
Ciente do problema, arranjei um mecanismo de autodefesa: quando me apanho a dizer “pode dar jeito” incendeio de imediato o objecto em questão.
Como exemplos de artigos “pode dar jeito” temos: conjuntos incompletos de naperons; caixas de cartão, outrora embalagens de electrodomésticos; manuais de instruções de máquinas que já não possuímos; escadotes semi-podres; carregadores de telemóveis desaparecidos; bicicletas sem selim; manuais de software datado; cadeiras de praia ferrugentas; cassetes VHS (regravadas 100 vezes) com a trilogia da Guerra das Estrelas; palhaços em porcelana reles a tocarem guitarras de aparência artesanal.

sexta-feira, janeiro 27

Aborto: 3 achas para a fogueira

A discussão sobre o aborto tem andado parada. Esse assunto de primordial importância para a sociedade portuguesa e para todas as mulheres condenadas a pesadas penas de cadeia (que devido ao adjectivo “suspensa”, nunca chegarão a cumprir) foi batido aos pontos pela eleição do próximo elemento decorativo da nação, vulgo Presidente da República.
Os argumentos clássicos do SIM e do NÃO estão suficientemente divulgados, contudo gostaria apenas de deixar no ar (que é como quem diz, no blog) 3 perguntas, caso a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas seja aprovada:
- Questão n.º 1: quem paga a intervenção médica?
- Questão n.º 2: no caso da mulher recorrer à IVG depois das 10 semanas, limite legal, como actuar?
- Questão n.º 3: como proceder quando um dos elementos do casal, digamos o homem, desejar a criança e a mulher pretender abortar?

quarta-feira, janeiro 25

Vamos às compras II

Os saldos são a altura ideal para avolumar a aldrabice, praticando publicidade enganosa em grande escala.
As montras exibem caracteres garrafais: 30%, 40%, 50% quando os lojistas pretendem propagandear -30%, -40%, -50%. Se não forem precisos poderei interpretar a mensagem como -70%, -60% e -50%.
Rigor matemático à parte, o método de atrair o consumidor tornou-se rebuscado e desleal. É prática comum ver na montra de um estabelecimento um gigante “70%” com um minúsculo “até” escondido no canto superior esquerdo. Na verdade, a maioria das reduções pode nem passar além dos 30% mas, existindo um cachecol verde fluorescente danificado com desconto de 70%, constrói-se um chamariz aliciante e enganador.
Verdadeiramente escandaloso é levar a “técnica do até” da montra para o produto. Sim, já foi avistada a etiqueta do “até 50%” num artigo! Qualquer dia surge, associado a um Logan 12 anos, um rótulo com um minúsculo “podia ser que fosse” e um gigante “apenas 1€”.
Quem defende o consumidor?

segunda-feira, janeiro 23

Vamos às compras I

A época de saldos é uma boa oportunidade para adquirirmos mais alguns trapos para o já superlotado guarda-roupa. A baixa dos preços é justificada pelo escoamento necessário de stocks, abrindo-se assim espaço para os artigos da nova estação.
A origem do fenómeno pouco me importa, as colecções parecem-me todas semelhantes e moda é um conceito fútil na minha escala de valores e prioridades.
Em busca de boxers confortáveis e económicas percorria a montra de uma loja da Guerra Junqueiro. Um pacote composto por dois exemplares apresentava uma etiqueta com a seguinte indicação: 2x11€.
Vislumbro 3 interpretações possíveis para esta informação:
- O preço do conjunto é 22€ (2x11=22);
- O pacote, composto por 2 boxers, custa 11€;
- Se comprarmos 2 caixas, portanto 4 boxers, pagaremos apenas 11€.
Em que ficamos?

sexta-feira, janeiro 20

Imunidade à inflação

A crise não é para todos, decididamente. Não me refiro apenas aos ricos e aos poderosos, há gente humilde que consegue passar ao lado do fenómeno inflacionário.
Ouvi outro dia o seguinte comentário, relativamente à escalada do preço dos combustíveis: “os aumentos não me afectam nada, meto sempre 5 euros de gasóleo”.
Atrevo-me a alargar este método profetizando que aqueles que continuarem a comprar 3 euros de gomas, 12 de ração para cão e 20 de carne para picar não gastarão nem mais um cêntimo, independentemente da subida de preços dos bens em questão.
Como em tudo na vida, “não há bela sem senão”, pelo que os efeitos perniciosos desta técnica se fazem notar quando o custo nominal de aquisição dos artigos baixa... lá se vai a poupança!

quarta-feira, janeiro 18

Nomes de vidro

Fazer pouco dos outros é um hobbie tão ou mais antigo que a prostituição. A maneira mais fácil de começar é pelo nome.
Qual a nossa reacção quando ouvimos no altifalante do consultório chamarem o senhor José Manuel Calhau? Rimo-nos discretamente, fazendo pouco do apelido singular. Se solicitarem ao invés o distinto cavalheiro David Rocha não existe motivo para qualquer chalaça. Não serão uma rocha e um calhau exactamente o mesmo? Será a comicidade atribuída a “Manuel José”?
Os exemplos discriminatórios são infindáveis! Aceitamos pacificamente Pereira, Laranjeiro, Silva, mas fazemos troça dos apelidos Bananeira, Pessegueiro ou Matagal.
Relatou-me um professor de Matemática que, no saudoso ano de 1982, tinha tido uma aluna de nome Elisabete Pila Pisa. Porventura não se recorda se era uma estudante medíocre ou uma aplicada sabichona. Na memória restaram apenas os apelidos. É extraordinário que a moçoila (hoje decerto mulher feita) tenha recebido “Pila” por parte da mãe, quem diria… mais vale assim que “Pisa Pila”, soa em demasia a sadomasoquismo.

terça-feira, janeiro 17

A incoerência do poder curativo divino

Aproveito este parágrafo introdutório para reafirmar que me mantenho humilde relativamente aos princípios do culto religioso. Sou um leigo em Teologia e não quero provocar a ira dos fanáticos, quem o fez deu-se mal.
Apraz-me contudo comentar a incoerência do poder curativo divino.
A situação hipotética é a seguinte: o senhor Silva adoece, digamos, cancro nos intestinos. A família, preocupada com as notícias do estado de saúde do patriarca, reza a todos os santos, faz promessa de ir a Fátima, acende velinhas...
Eis que o cavalheiro, após tratamento médico ateu, ultrapassa a crise e consegue debelar o problema. A família exclama: “graças a Deus, louvado seja o Senhor”. Serão 2 meses e meio de pais-nossos e ave-marias suficientes para acalmar a ira de Jeová, que tinha planeado uma morte lenta e dolorosa para o senhor Silva? Será que os tratamentos de quimioterapia tiveram alguma influência na evolução favorável do quadro clínico do paciente?
De qualquer modo, se o objectivo divino não era punir o malogrado Silva, porquê despoletar a doença? O desgraçado apanhou um susto de morte e a família ficou preocupada e nervosa. Será que o desenrolar dos acontecimentos foi apenas para reafirmar o supremo poder do Senhor, como quem diz, “se Eu quisesse já tinhas lerpado”? Se assim foi mais valia mandar um sinal que envolvesse menos intervenientes e não requeresse o uso dos escassos recursos hospitalares.

domingo, janeiro 15

Grandes Mistérios da Humanidade – parte II

Vivemos num mundo misterioso. As observações quotidianas levantam mais questões para as quais não consigo obter resposta:

- Porque é que os sapateiros têm também um negócio paralelo de chaves?
- Porque é que a língua da sogra só se vende na praia?
- Porque é que se fala em “4 piscas” quando o carro tem “6 piscas” ligados?
- Porque é que os porteiros vestem todos de preto?
- Porque é que o Benfica é a único clube que defende com “unhas e dentes” o sistema de nomeações dos árbitros?

sexta-feira, janeiro 13

Miau

Os agricultores são, ex equo com os professores, a classe profissional mais felina. Quando chove miam: “Miau, miau, queremos sol”; quando não chove miam: “Miau, miau, queremos chuva”. Ora, como apenas conheço dois estados temporais, chuva ou não chuva, concluo categoricamente que os agricultores estão sempre a miar. Eu até gosto de gatinhos (e já agora, porque não dizê-lo, de gatinhas) mas penso que a minha mãe não iria entender se trouxesse um agricultor cá para casa, incumbido de dormir aos pés da minha cama…

quinta-feira, janeiro 12

Perguntas a Eusébio

Sempre que Eusébio da Silva Ferreira é entrevistado na televisão os jornalistas repetem perguntas maçadoras, do género:

- Como era no seu tempo?
- O que sentiu quando marcou o golo?
- Acha que já não há amor à camisola?

Por diversas vezes o “Pantera Negra”demonstrou que tem cultura e predisposição suficientes para abordar temas consideravelmente mais interessantes. Gostaria de escutar a sua opinião relativamente às seguintes questões:

- Em que medida a queda do Comunismo está relacionada com a Globalização?
- Que paralelo distingue entre “O código Da Vinci” e “Anjos e Demónios”?
- Que vantagens encontra na utilização quotidiana do MSN face ao ICQ?

terça-feira, janeiro 10

Zoo Alternativo

Conheço um zoológico alternativo, aberto todo o ano. Situa-se perto da Quinta da Princesa e dá pelo nome de Almada Fórum.
O bilhete é gratuito, pena o estacionamento estar quase sempre lotado. De qualquer modo vale sempre a pena a visita, em que outro lugar podemos encontrar leões, tigres e panteras correndo livremente pelas planícies do 1º, 2º e 3º pisos?
É necessário todo o cuidado pois estas feras são potencialmente perigosas. Se cometermos o erro de parar em frente à Zara corremos o risco de ser atropelados por uma manada de vacas loucas em busca de roupa.
Qualquer visita ao McDonalds proporciona encontros imediatos de 1º grau com uma espécie rara de babuínos que para além do cheiro nauseabundo e barulho constantes, defeca no espaço reservado à ingestão de alimentos.
Há ainda o Toys ‘R Us sobejamente conhecido por albergar pequenos ratos que guincham “mãe, mãe” / “pai, pai”.
Os ursos têm lugar cativo no Sportsbar, assistindo aos jogos do glorioso, bebendo a sua cerveja e coçando a pança.

segunda-feira, janeiro 9

Instruções

Regressava a casa pela A1, sentido Norte-Sul, quando o ponteiro do combustível se aproximava perigosamente do empty. Como a estação de serviço de Aveiras ficava próxima decidi parar para abastecer.
Resolvi ler as indicações exibidas junto ao visor da bomba do gasóleo. Assim dizia:
“1 - Retirar a tampa do depósito.”
Nem consegui ler mais nada, estava em estado de choque. E eu que pensava que se podia abastecer por telepatia… para mais nem sequer são delicados, podiam escrever algo como “Caro utilizador, retire a tampa do depósito, se faz favor”. Que saudades tenho dos tempos em que não era sequer preciso sair do carro pois existia um empregado especializado que, de cigarro na boca, faziam todo o trabalho por nós.

sábado, janeiro 7

Nossa Senhora e os Pastorinhos

Relativamente aos milagres de Cristo, virtudes dos santos e princípios teológicos, não tenho sequer arcaboiço intelectual para construir uma dialéctica fundamentada, pelo que me abstenho de entrar em discussão sobre essas matérias.
Quanto às aparições de Nossa Senhora em Fátima e às aventuras dos 3 Pastorinhos, atrevo-me a levantar algumas questões…
Ponham-se na pele de Nossa Senhora, se tivessem uma revelação importante a fazer ao mundo iriam recorrer a 3 analfabetos como veículos transmissores da vossa imaculada mensagem? Porque não utilizar um jornalista, uma pessoa eloquente, alguém com créditos firmados? Mais, porque raio é que Nossa Senhora se tinha de empoleirar em cima de uma azinheira? Um banco ou um escadote do Mestre Maco não chegavam? E que tal usar os poderes divinos para curar os leprosos ao invés de fazer equilibrismo em árvores?
Há quem defenda que Fátima é um bluff gigante… estou em total desacordo. Trata-se de uma indústria em crescimento, hiper-rentável e genuinamente portuguesa, uma espécie de “sopa da pedra” empresarial.

sexta-feira, janeiro 6

O Mealheiro Mágico

Já todos conhecemos a Lamparina Mágica (aquela de onde sai um génio a chatear-nos por causa de três desejos) mas poucos estão familiarizados com o Mealheiro Mágico.
Vou partilhar um segredo antigo, uma maneira fácil e segura de enriquecer.
Para tal é apenas necessário um mealheiro. Se se optar por um porco cor-de-rosa e sorridente, melhor ainda.
Ao depositarmos todos os dias 1 euro no mealheiro ao fim de um ano teremos 1x365 = 365 euros (73175,93 escudos) o que dá, por exemplo, para comprar o último modelo da Gamo em carabinas de alta potência, a “CF Diopter”.
O segredo é o seguinte: se em vez de 1 euro depositarmos 20 (não é nenhuma fortuna colossal), ao fim do ano não teremos uns míseros 365 euros mas sim 7300!

Cabe-me avisar que resultados com divisas diferentes de 1 ou 20 euros não se encontram testados, podendo tais experiências revelar-se catastróficas.

quinta-feira, janeiro 5

Minutos de Silêncio

É prática comum guardar-se um minuto de silêncio nos eventos subsequentes à morte de uma figura pública de destaque. Sem querer por em causa este procedimento, sugiro a sua catalogação e diferenciação pois parece-me extremamente injusto que todos sejam tratados do mesmo modo.

1 Minuto de silêncio: vítimas de catástrofes naturais;
2 Minutos de silêncio: pessoas que se distinguiram por motivos nobres;
3 Minutos de silêncio: Jesus Cristo, profeta Maomé e afins.

1 Minuto de assobios: grandes ditadores;
2 Minutos de assobios: indivíduo que fez um risco na porta do meu carro;
3 Minutos de assobios: presidentes do Benfica.

terça-feira, janeiro 3

Pay Time

Se partirmos do pressuposto que o empregado do restaurante é aldrabão e que o cliente é larápio, qual deverá ser o esquema de pagamento a adoptar para que ninguém saia lesado?
Pagar quando se faz o pedido, o clássico pré-pagamento, é demasiado injusto. Deste modo o garçon fica com a faca e o queijo mão, o que não é de todo aconselhável, especialmente se estiver suja (a faca ou a mão).
O pagamento no final da refeição é extremamente perigoso. Os mais “espertinhos” poderão aproveitar um momento de distracção do empregado e escapulir-se do estabelecimento sem sequer deixar gorjeta!
Há uma solução intermédia que reúne algum consenso. Trata-se de pagar no acto de entrega, o que até faz algum sentido pois trocam-se em tempo real bens alimentares por dinheiro. Porém, se é verdade que euros são sempre euros (grande redundância!), uma deliciosa sanduíche de fiambre com manteiga Mimosa nada tem a ver com uma intragável sandes de fiambre medieval e manteiga rançosa. Ao pagar no acto de entrega o consumidor fica desarmado.
Analisadas as premissas, a solução mais sensata passa por fasear o pagamento em 3 momentos temporais distintos: 1/3 aquando do pedido, 1/3 na entrega e 1/3 após o consumo.