quinta-feira, abril 26

Pequena área

As regras do desporto-rei deliberam que dentro da pequena área o jogador da equipa atacante não poderá estorvar a acção do guarda-redes adversário. Fora, o guardião perde os privilégios, tornando-se um jogador normal.
Ainda assim é estranho que, sempre que há uma situação de falta evidente sobre o keeper fora do rectângulo mágico, os adeptos da equipa infractora insistam em esgrimir o argumento: “está fora da pequena área”.
Qualquer dia o ponta-de-lança terá salvo conduto para, se necessário, degolar selvaticamente o guarda-redes... desde que o faça, evidentemente, fora da pequena área.
O mesmo se passa com a regra do “tocou primeiro na bola”. Quando assim acontece, o jogador “activo” tem ao seu dispor 2 segundos de impunidade, que poderá usar, por exemplo, para arrancar a perna do adversário em carrinho. Nenhum árbitro se atreverá a punir o lance, pois a bola é jogada (ainda que de raspão) antes dos ossos começarem a estalar.

terça-feira, abril 17

Multipoupança

Poupar é a palavra de ordem dos nossos dias. Com os impostos a subir, os salários congelados e todo aquele conjunto de argumentos do género “os gajos andam a mamar e o povo é que se lixa” lá vamos ficando com as economias arruinadas.
Felizmente, existem ainda alguns procedimentos que protegem o pequeno aforrista. O melhor deles todos é indiscutivelmente a célebre técnica do “levantar 10€ de cada vez”. Os utilizadores deste método transitaram da fase de ouro do “levantar 5€ de cada vez”, após a alteração do limite mínimo das caixas Multibanco.
Desta forma, como é sabido, não conseguiremos comprar artigos acima dos 10€ (se não usarmos o cartão, evidentemente) o que se reflecte em enormes benefícios a médio prazo.
Apraz-me perguntar se quem cometeu a loucura de levantar 40€ terá mesmo de os gastar na totalidade e de imediato, ou se, pelo contrário, poderá ponderar racionalmente cada despesa.

sábado, abril 7

Comam fruta!

Vivemos num mundo muito diferente do que os nossos familiares puderam experenciar no início do século passado. À época, matar onças na selva era o desporto de eleição, muito diferente do nosso “ir tomar uma bica com a malta num café cheio de fumo”.
Independentemente das mudanças que os tempos modernos trouxeram, é aceitável que o passar dos anos acarrete surpresas, novas dinâmicas sociais e fenómenos incompreensíveis à luz dos padrões do passado. Caso contrário, como explicaria ao meu bisavô a existência de uma corrente de opinião, composta por muita gente honesta e instruída, a lutar pelo casamento entre seres do mesmo sexo?
Se tal parece tarefa hercúlea, que tal justificar que em pleno 3º milénio são comercializados artigos como o Compal Essencial*, quando podemos simplesmente comprar meia-dúzia de maçãs no Pingo Doce, ou melhor ainda, surripá-las da macieira do vizinho?


* Preparado industrial composto por fruta esmagada e carregada de conservantes, sob a apresentação de um pote de comida para recém-nascidos.