terça-feira, agosto 29

Serviço Nacional de Saúde

Nos países da Europa em que os ventos da esquerda sonhadora e generosa sopraram, assistiu-se à construção do denominado “estado social”. Cada nação, embebida de espírito solidário e humano, tomou para si a responsabilidade total de zelar pela saúde dos seus cidadãos.
Como infelizmente embarcámos nessa onda caprichosa, eis-nos chegados às praias da linha do Estoril, que é como quem diz, à real lixeira que é o Serviço Nacional de Saúde.
Em termos teóricos, a equação socialista que sustenta esta máquina utópica é a seguinte: “Receitas que alimentam o SNS” = “Custos suportados pelo SNS”.
Qualquer um de nós deverá participar em ambos membros, de um modo ponderado com que auferimos.
Na prática estamos perante uma inequação (daquelas bem desequilibradas), pois existem indivíduos que insistem em permanecer unicamente no lado das despesas, ad eternum.
O electricista é o paradigma desses sujeitos. “Factura” é uma palavra que não consta do seu vocabulário, assim como “fisco” ou “declaração de rendimentos”. Em substituição conhece os termos “burla”, “vigarice” e “desenrasca”. Mais, devido ao gosto apurado por cerveja e tabaco, o mais certo é pendurar-se no SNS para solucionar as maleitas que o próprio, de forma consciente e despreocupada, provocou. Para cúmulo, se há hora da morte não restar dinheiro para o caixão e mortalha, ainda teremos de o financiar novamente, a fundo perdido.

quinta-feira, agosto 24

Traição

Afinal não acontece apenas aos outros... anos investidos numa relação, noites de prazer e loucura, fidelidade total e cumplicidade genuína descambaram numa rude tragédia!
Caríssimos, acabo de me juntar ao clube dos traídos.
O que vem a ser a Sagres Chopp? Este recente devaneio da Central de Cervejas entra em perfeita contradição com todos os princípios tradicionais do legado Sagres. Um travo difícil, uma personalidade própria e a adesão de 95% dos operários da construção civil são um património insubstituível.
Não precisamos de cervejas leves, suaves e conotadas às terras de Vera Cruz. Quem desejar armar-se em parvo sempre pode experimentar água-rás ou esperma de cavalo.

sábado, agosto 19

Urinol

Numa época em que o marketing assumiu primordial importância, é com naturalidade que assisto ao esgrimir da virilidade por parte do que resta da velha guarda de coçadores da micose. Um homem tem que fazer pela vida e, quando as restantes qualidades não abundam, há que propagandear um pénis desmesuradamente grande, muitas vezes enrolado em volta da perna para não ser visto.
Como apenas duas ou três Anas Cláudias é que vão efectuar a verificação fálica, a dúvida permanecerá por muito tempo nas mentes imaginativas das mais fogosas donzelas.
Porém, o que os gabarolas se esquecem é que o derradeiro teste da masculinidade se processa diariamente, no urinol.
Pessoalmente, nunca gostei desse antro de macacos. A privacidade é quase nula, e é escusado fitarem o tecto e assobiarem, tentando proporcionar-me uma frágil sensação de isolamento. Por via das dúvidas puxo um escarro sonoro, não vá o meu “vizinho” pensar que sou dado a pegar de empurrão.
Para grande felicidade da comunidade gay, constato que os urinóis sem protecção lateral voltaram novamente a estar na moda. Basta, vou mijar para a sanita!

domingo, agosto 13

Parabéns para mim

A repetitividade do aniversário confere à cerimónia uma identidade única e paradoxal, um misto de tédio e excitação.
Neste evento anual, vulgarmente realizado à mesa de um restaurante, temos a oportunidade única de confraternizar como indivíduos singulares que, perdidos em combate durante 365 dias, reaparecem em grande estilo, aceitando o nosso convite para jantar.
Pensemos um pouco, qual o mérito de completar 15, 24 ou 48 Primaveras? Num país onde não há fome, lepra ou hipopótamos no Tejo, mantermo-nos vivos mais um ano não constitui uma façanha monumental, até porque a esperança média de vida está bem próxima dos 80.
Por isso, caso queiram fazer a gracinha de me desejar os parabéns no dia de hoje, façam-no porque sou um amigo impecável, um analista competente ou um blogger dedicado, não por ter nascido a 13 de Agosto de 1982.

sexta-feira, agosto 11

A nobre arte de mendigar

Numa sociedade onde o capitalismo selvagem venceu e as preocupações sociais estão longe de serem prioridades, mendigar surge como o último reduto dos excluídos, a derradeira fronteira da miséria humana.
Porém, mesmo neste estado extremo de pobreza, há regras e comportamentos padronizados a respeitar.
O cheiro é um atributo primário. Para mendigar segundo os cânones clássicos há que ter passado, no mínimo, 6 noites a dormir numa sarjeta, permitindo que a marinada de urina e dejectos forme um aroma constante, resistente à pluviosidade e ao banho esporádico no centro de abrigo.
O vestuário constitui-se como o elemento-chave na definição do status do mendigo. É dada preferência a tons castanhos, em artigos estrategicamente descosidos em 15 locais diferentes e globalmente muito sujos.
A preparação da noite é de extrema importância, pelo que as célebres mantas e os cartões provenientes de frigoríficos se assumem como pedras basilares na agenda diária de um maltrapilho.
A barba pulguenta, o cabelo oleoso a dentição incompleta, além de um garrafão de vinho tinto Afonso III (com a volumetria padronizada de 5 litros) completam a panóplia de adereços requeridos.
Depois, é cada um por si... olhar vidrado, andar manco e lento, posição curvada e frases expressivas como “Os do guberno irem todos pá puta cus pariu!” só se adquirem com o passar dos anos e o apurar da experiência.

sexta-feira, agosto 4

Ver para crer

Nenhum povo leva tão a sério a máxima “ver para crer” como o português. De facto, ver é o desporto nacional de eleição.
Esta assaz maneira de viver em sociedade atinge a sua expressão máxima quando ocorre um acidente de viação. Em menos de 2 minutos consegue-se juntar mais de 30 praticantes em redor do desastre.
Aqueles que presenciaram o sinistro assumem protagonismo na cena. A sua função primordial é relatar com exactidão os factos aos espectadores que vão acorrendo ao local, embora raramente consigam ser fidedignos. Apesar de na maioria das vezes estar-se perante duas viaturas acidentadas e um indivíduo com algumas escoriações, são recorrentemente mencionados veículos em fuga, tiros, relâmpagos e OVNIS a raptarem bovinos.
A chegada de uma ambulância a alta velocidade adensa ainda mais a multidão. Eis o sal e a pimenta que faltavam: há mortos, há feridos, há tragédia! Os espectadores rejubilam, afinal o tempo investido rendeu dividendos.
O quadro apoteótico para qualquer mirone integra os bombeiros voluntários locais tentando desencarcerar um ocupante que, esmagado por uma colisão brutal, balbucia palavras vãs, imperceptíveis devido à mistura de sangue e miolos que lhe empapa a boca.

terça-feira, agosto 1

Olé gringos!

Nuestros hermanos são um povo sabedor. Escusam-se a entrar em argumentos bacocos como a “periferia” para justificar atrasos estruturais, cilindrando-nos com as suas laranjas baratas, um PIB per capita superior e dobragens de qualidade das produções Private.
Contudo, estes aparentes sinais de progresso escondem crimes hediondos. Como é possível, num país dito evoluído, permitir o casamento entre seres do mesmo sexo (do qual destaco o inacreditável homem com homem!) enquanto se impede um indivíduo de tomar uma cervejola na rua com os amigos (prática denominada botellón).
Espero sinceramente que a moda dos matrimónios suis generis não pegue em Portugal, estou ainda a recuperar do trauma que foi saber do namoro entre o Malato e o Baía.
Nós por cá, felizmente, ainda somos pró-ratas e, sobretudo, livres de chuchar uma “mini” gelada quando e onde nos apetecer, olé!