terça-feira, outubro 25

Há bicha na ponte!

Será que já não se pode dizer que há bicha na ponte? A invasão brasileira trouxe mais a Portugal que empregados de café e prostitutas, promoveu a alienação da nossa língua mãe. Desde quando é que uma bicha é um paneleiro? Desde quando é que uma calcinha é um preservativo ou que chamar rapariga a alguém é ofensivo? Vamos todos parar e pensar, quem concebeu palavras como idiossincrasia, onomatopeia ou esternocleidomastoideo demonstra a priori imaginação suficiente para conduzir os destinos do seu próprio idioma.

De modo a refutar interpretações xenófobas no que diz respeito ao parágrafo anterior, deixo à comunidade brasileira um exercício de integração: pronunciar “mulher” sem dizer “muler”.

terça-feira, outubro 18

Morte como redenção

Será a morte uma tragédia? Penso que não.
Constato que quando alguém morre a sua reputação sobe bastante. Assim, um indivíduo que tenha sido um bandido, um devasso, um pulha e um vigarista transforma-se automaticamente num anjo celestial após o último suspiro. Os comentários da família e amigos atestam-no: “Ai tadinho, era tão boa pessoa, uma jóia de rapaz, Deus o tenha. A vida não lhe sorriu, sofreu muito, coitado…”.
Alguém se lembra de ver escrito numa pedra tumular: “Aqui jaz Manuel J. Pedrosa, um grande filho da puta e um cabrão como poucos”?

terça-feira, outubro 11

O Coiso

Quando, em animado diálogo, nos esquecemos de um substantivo o que dizemos? “Coiso” é na maioria das vezes o que arranjamos para remendar uma frase incompleta. Pensamos que ao pronunciar “coiso” o outro interlocutor irá de imediato compreender a que nos referimos. Quando nos perguntam “Onde é que meteste o coiso?” significa logicamente que nos questionam acerca da localização do champô para cabelos finos e estragados. Porém, se ouvirmos “Mete as cascas de batata no coiso, se fazes favor” é porque nos pedem para colocar as cascas de batata no caixote do lixo.
O que é então o coiso, um champô, um caixote do lixo? Dito a frio, e sem um contexto, o coiso é o pénis. Não sei quem o determinou, mas assim como dei de barato que a caneta se designa caneta não tenho problemas em aceitar a maioria das outras convenções. Ainda para mais esta até dá imenso jeito pois não conheço mais sinónimos para pénis.
Isto leva-me assim a concluir que quando nos esquecemos de um vocábulo recorremos sempre a um termo que assumimos por defeito ser uma pila (afinal lembrei-me de um sinónimo).
E no feminino? Sim, nós também usamos “coisa” de quando em vez… No entanto neste caso não existe uma correlação, mínima que seja, com o aparelho reprodutor feminino.
Visto que o “coiso” me está demasiado entranhado (não me interpretem mal!) nada posso fazer para me livrar dele. Posso porém quando a oportunidade surgir, ao invés de dizer “coisa”, tentar lembrar-me de pronunciar “vagina” para começar a equilibrar as coisas (neste caso não precisei de escrever “vaginas” porque “coisas” significa sobretudo coisas).

quinta-feira, outubro 6

Especial Autárquicas

As Autárquicas são o acto eleitoral mais divertido de todos, em clara oposição às maçadoras eleições Europeias, onde se elege “não sei quem” para ir “não sabemos bem para onde” defender “não se sabe concretamente o quê”.

A reputação e honorabilidade dos candidatos à presidência dos municípios são requisitos indispensáveis para o sucesso das candidaturas.
A campanha eleitoral tem um papel importante, os brindes são fundamentais para um bom desempenho dos candidatos. As canetas estão fora de moda valendo mais investir em aventais e sacos de compras. Os bonés são interessantes para captar o eleitor jovem mas as melhores soluções, embora onerosas, são o chouriço e os electrodomésticos.
Mas tal não basta, os chavões são fundamentais. Frases como “As pessoas conhecem-me” ou “Comigo vai-se acabar com esta pouca-vergonha!” são bons catalizadores das candidaturas.
Cartazes com obras megalómanas em pano de fundo, exibindo guindastes e escoramentos complexos são também altamente produtivos.
Se de uma boa reputação os candidatos desejarem passar ao status “Deus na Terra” basta promoverem um "caso judicial" onde sejam forçados a prestar declarações no DIAP ou na sede da PJ. Depois devem contratar-se 50 mulheres obesas sem o 4º ano de escolaridade, alguns rufias, 20 burgessos de bigode farto e distribuir-lhes cartazes com a foto do acusado incitando-os a berrar seu nome durante o reboliço. Convém ainda propor-lhes que forcem o cordão policial de quando em vez, acção acompanhada por gritos histéricos e choro compulsivo.

terça-feira, outubro 4

Pressupostos errados

De premissas erradas o mais natural é chegarmos a conclusões erradas. Parece uma banalidade mas há quem ainda não tenha aprendido.

Um homem e uma mulher sentados na esplanada de um café pedem uma cerveja e um sumo de laranja natural (atenção, não disse “respectivamente”). Porque será que quando o empregado chega com as bebidas deduz automaticamente que o sumo é para a senhora e a cerveja para o cavalheiro? Será que se é menos homem por beber um sumo ou antinatural que uma mulher goste do travo característico da cerveja?
Pois bem, o homem era eu…

Outro dia acompanhei a mãe de um amigo ao banco. A senhora estava a tratar de um empréstimo que ficará em nome do filho para a compra da primeira habitação.
Naturalmente que ao explicar a situação à funcionária que a atendia mencionou por diversas vezes “O meu filho assim / O meu Paulo assado”.
Porque havia a bancária de supor que o filho era eu? Eu até nem disse: “Mamã, quero colinho”. Mas que direito tinha ela de se dirigir a mim como sendo o filho da mãe do meu amigo?
Veja-se só a quantidade de pressupostos errados que existiam na cabeça daquela incompetente: pensou que eu, que detesto ficar a dever dinheiro a alguém, iria pedir 100.000 euros emprestados; imaginou que o meu pai fez sexo com a mãe do meu amigo e sem preservativo!; aceitou de bom agrado que eu me chamaria Paulo quando o meu BI mostra claramente que o meu nome é David.

Uma nota final, quem partiu do pressuposto que fui eu a pedir o sumo está errado!