domingo, setembro 30

Cuba, dia XIII - quarto 1115 do hotel Palma Real

Este é, sem sobra de dúvidas, o momento mais prazenteiro desta fantástica epopeia. A trilogia bar/praia/piscina tornou-me um homem pluridisciplinar e amigo dos prazeres mundanos.
Regra geral, os hotéis “tudo incluído” jogam na estratégia dos hóspedes apenas se comportarem como animais insaciáveis no primeiro dia da sua estadia. Não contem comigo para corroborar esta teoria, pois nem chamando o exército me vão conseguir impedir de derrubar o 35º Daiquiri.
Estar sentado junto às águas paradisíacas da costa Norte, de refresco na mão, areia branca e fina entre os dedos dos pés, é sobretudo reconfortante após ter visionado as imagens das recentes cheias em Sacavém, com a consequente desgraça de comerciantes e moradores. Como exorta o ditado: “não basta ser feliz, é preciso que os outros não sejam”.

sábado, setembro 29

Cuba, dia XII - Varadero, bar “Mojito” do hotel Palma Real

Agora sim, estou nas minhas 7 quintas. Depois de muitas noites mal dormidas e de safaris às lagartixas, mereço descanso e bebida à descrição.
Já tive o cuidado de educar a empregada de serviço no bar onde me encontro quanto à forma de confeccionar os meus Mojitos: pouco rum e muito gelo. Dei-lhe instruções precisas para retomar a preparação mal a minha actual bebida esteja perto do fim. Dentro de minutos farei uma rigorosa inspecção à frota de “kayaks” da hotel com o intuito de seleccionar o meu veículo de recreio para o dia de amanhã.
A cama que me calhou em sorte dispõe de largura suficiente para albergar uma família cigana. Vou necessitar de pelo menos mais dois corpos esculturais para compor o cenário e manter uniforme a temperatura do leito.

sexta-feira, setembro 28

Cuba, dia XI - Varadero, restaurante “cadena de Dona Yulla”

Acabei de pedir um “bistec uruguayo” num estabelecimento que não possui cardápio nem toalha limpa. Talvez a política da casa seja investir tudo no armazenamento e confecção de géneros alimentícios e nada na limpeza geral da zona de refeições. Estou contudo em dúvida quanto à primeira parte da suposição, dadas as barbaridades que presenciei no mercado municipal.
Pela primeira vez oiço na rádio algo que não música cubana. Seria certamente melhor escutar a sirene de uma fábrica de tabaco que o “My heart will go on” da Céline Dion.
O sol está abrasador e a desaconselhar a exposição do corpo no horário crítico. Tenho dado bom uso ao protector e ao “after-sun”. Sem eles já teria morrido queimado ou estaria igual ao Freddy Adu.
Aí vem o bife. As moscas parecem estar a gostar. Oxalá eu também...

quinta-feira, setembro 27

Cuba, dia X - Varadero, quarto 19 do “hotel” Ledo

O sol veio finalmente para ficar. Estou a tentar recuperar a todo o gás os banhos surripiados pelas chuvas da estação.
Ontem, pelo lusco-fusco, decidi enfrascar uns Mojitos numa cabana patusca do quarteirão contíguo. Iniciei conversa com dois canadianos de idade avançada, Ken e Norman. Apesar do seu aspecto rude e modos pouco polidos, demonstraram um nível cultural interessante e um domínio completo das zonas de diversão nocturna.
Fui conduzido a um espectáculo de dança que teve lugar a umas ruas de distância. É impressionante como os meus novos amigos, apesar de não falarem uma palavra de castelhano, conheciam todas as bailarinas pelo nome.
Após muito rum e cerveja confessaram-me o verdadeiro propósito das suas recorrentes visitas a Cuba: turismo sexual. Tal nem seria deveras surpreendente se não estivéssemos a falar de cavalheiros com mais de 75 primaveras.
No final da noite deixaram-me uma dica: o Viagra perde aos pontos para o Cialis. É que, segundo a sua opinião experimentada, “um gajo de manhã ainda pode dar mais uma”.

quarta-feira, setembro 26

Cuba, dia IX - Varadero, quarto 19 do “hotel” Ledo

A visita ao café da rua 36 fez-me reencontrar os pixeis do ciberespaço através de um computador pré-histórico.
Infelizmente é demasiado tarde para reservar um hotel decente a um preço aceitável, pelo que me resigno à condição de caçador de insectos e perscrutador de emoções fortes em “casas familiares” de qualidade sofrível.
Mudei-me para a concorrência. O “hotel” Ledo, a poucas centenas de metros do local onde pernoitei, oferece-me estadia por menos 12 pesos ao dia.
É claro que não há bela sem senão: a TV da minha sala privada, para além de não dispor de telecomando, dá com cada estalo que sou tentado a refugiar-me atrás do sofá para evitar ser atingido pelos estilhaços de uma eventual explosão.
Soube ontem pela RTP Internacional dos desaires caseiros da turma leonina, Parece que a lagartada está com falta do meu cântico a plenos pulmões “joguem à bola, seus mercenários!”. Estou certo que tal manifestação buçal foi o rastilho da recuperação frente ao Nacional da Madeira na época transacta e desse fenómeno paranormal que foi ver o Bueno a introduzir 4 vezes a bola na baliza adversária.

terça-feira, setembro 25

Cuba, dia VIII - Varadero, quarto 207 do “hotel” Dos Mares

A aventura continua. Quando pensei que a chegada a Varadero seria a minha coroação como “rei do Mambo” estava longe de imaginar as peripécias de mais um dia em Cuba.
A chuva acompanhou toda a minha viagem desde Havana. Quando finalmente desembarquei no hotel Palma Real e solicitei a extensão da minha reserva para os próximos 4 dias, pasmei com a informação de que, caso desejasse efectuar o pagamento ao balcão, os custos seriam o dobro do já adquirido. Qual a solução? Alojar-me provisoriamente numa espelunca e utilizar o dia de amanhã para, recorrendo ao cartão de crédito e à internet, assegurar a entrada no paraíso dos meus sonhos.
Após pousar os meus pertences no antro Dos Mares, segui de toalha ao pescoço para a praia, ignorando o riso em surdina dos empregados que me viram cruzar a entrada em plena tempestade tropical.

segunda-feira, setembro 24

Cuba, dia VII - Havana, apartamento 1464

Mais um dia, mais um “tour”. Desta vez o destino era Vinales e o grupo rondava as 50 pessoas. A maioria, mexicana, trouxe boa disposição e atrasos constantes à viagem de autocarro.
Este belíssimo vale é sem dúvida um dos locais a não perder em Cuba, sendo por isso difícil compreender o porquê da maioria dos turistas decidir observá-lo apenas através da objectiva de uma máquina fotográfica.
Fui forçado a socorrer-me do baú das recordações escolares manter diálogo com um ancião vietnamita radicado nos arredores de Paris. Meu Deus, o meu francês está mesmo moribundo.
A chuva parece ter vindo para ficar o que, dado os meus planos para os próximos dias, é uma péssima notícia. Anseio ardentemente pela chegada ao faustoso hotel que me aguarda em Varadero. Nele poderei suprir os meus aguçados desejos de diversão caso a praia esteja fora de combate.

domingo, setembro 23

Cuba, dia VI - Havana, lobby do hotel Havana Livre

Ontem à noite assumi protagonismo num “show” de variedades que decorreu no hotel de Trinidad onde estive hospedado. Tratou-se de um mini-concurso que, para além da minha pessoa, contou com a participação de um argentino e de um cubano. O objectivo era distribuir beijos às “mujeres” e apertos de mão aos “hombres” da plateia, sendo que cada cumprimento valia 1 ponto. O tempo da prova era de 1 minuto.
Adivinhem quem foi o vencedor, totalizando 48 afáveis abordagens?
Como recompensa fui premiado com uma massagem (totalmente gratuita), válida a partir das 10h de hoje. Para desgosto das minhas perversões o autocarro zarpou às 8 da manhã.
Observo com preocupação que todas as viaturas que circulam nas estradas cubanas reprovariam certamente na Inspecção Periódica Obrigatória portuguesa. Parece que o lema nacional deste país passou de “hasta la victoria siempre” para “nenhum veículo é suficientemente velho para não circular”.

sábado, setembro 22

Cuba, dia V - Trinidad, quarto 8304 do hotel Ancón

Finalmente decidi comportar-me como um turista e embarquei numa daqueles excursões pré-programadas de autocarro, com duração de dois dias. O grupo de participantes ronda as 15 pessoas e é uma grande mescla de nacionalidades e idades.
Travei amizade com um casal polaco. Vamos jantar dentro de minutos na modalidade “tudo incluído”. Temo que o meu primeiro “ménage a trois” não seja com duas mulheres.
Não faço a barba há exactamente uma semana. Começo a ficar mais parecido com o Che que o próprio.
O cofre de valores abre-se (pasmem) com o cartão de acesso ao quarto, o que me parece um isco demasiado evidente para um tubarão das viagens.
Removi uma das ripas do tecto falso e aí escondi a carteira, recheada de pesos, euros e cartões de crédito. Se conseguirem dar com ela, os meus parabéns, nem sequer apresento queixa.

sexta-feira, setembro 21

Cuba, dia IV - Havana, apartamento 1464

Chove a cântaros. Os passeios da tarde foram cancelados, até ver.
Tomei decisões importantes quanto aos próximos passos da minha odisseia. Amanhã deixo a capital.
Iniciei uma parceria estratégica com um gato malhado que ronda o apartamento. Ele caça as bichesas e eu em troca... deixo-o viver. Chamem-me porco colonialista mas é apenas a lei do mais forte.
À medida que a minha barba cresce, a pele escurece e as fotos vão rareando, desvio-me da condição de turista e aproximo-me do “status” de cubano. Por um lado, estou mais seguro e menos exposto a contactos indesejados, por outro, acabou-se o assédio das “jineteras”.
Solicitei “pollo” para o jantar. Vou certificar-me de que o meu sócio felino se encontra são e salvo antes de iniciar a refeição.

quinta-feira, setembro 20

Cuba, dia III - Havana, parque central

Os meus pertences desaparecem à medida que convivo com as gentes pois o povo cubano, apesar de sorridente e falador, não transborda alegria mas necessidade. De facto as pessoas parecem-me descontentes e enfraquecidas pela ditadura comunista vigente.
Desconfio que quando se oficializar a morte de Fidel uma revolução popular eclodirá. Espero nesse momento já estar a salvo em terras lusas e em pleno usufruto dos meus luxos capitalistas.
Esborrachei um pequeno lagarto contra a parede do quarto. Não há sinais da barata da casa-de-banho. Vou assumir que suicidou quando tomou conhecimento da morte do réptil.
Consegui, após uma longa maratona, levantar dinheiro no banco. Coíbo-me de deixar registados em prosa os detalhes deste episódio, pois não me quero aborrecer quando reler estas linhas.

quarta-feira, setembro 19

Cuba, dia II - Havana, esquina da Malecón com a Aguila

O duche desta manhã foi partilhado com uma barata de dimensões tropicais. Quando, de chinelo na mão, regressei ao WC para o ajuste de contas, a desgraçada já se tinha esfumado.
As pessoas na rua são extremamente simpáticas e cordiais. No entanto, após cada contacto, surge a inevitável proposta de venda de charutos ou a pedinchice de dinheiro e géneros.
Cuba tem 11 milhões de habitantes e um polícia em cada esquina, o que me leva a pensar que esta é a profissão prevalente. Mas afinal o que raio guarda esta gente?
A vida na capital é exageradamente cara o que, aliado a salários de miséria, potencia as mais sórdidas formas de sobrevivência. Quase aposto que o sabonete que guardo na mochila me poderá proporcionar o felácio da minha vida.

terça-feira, setembro 18

Cuba, dia I - Havana, apartamento 1464

Cá estou eu: sozinho, no cu de Judas das Caraíbas e na primeira noite da minha aventura.
A viagem durou mais de um dia mas não me vergou. Estou no entanto certo de que o meu aparelho digestivo se vai encarregar dessa tarefa.
A casa onde me encontro, longe de ser um palácio, aparenta ter o mínimo de condições para constituir o meu poiso em Havana.
Amanhã arriscarei a fazer a pé os kms que me separam da marginal. Deus me ajude...
Antes de me deitar urge fazer uma escolha: morrer sufocado com o calor ou aguentar os dBs do ar condicionado do quarto?
Felizmente os mosquitos decidiram também gozar férias nesta altura (espero que a validade da suposição se mantenha até 3 de Outubro).

segunda-feira, setembro 17

Hasta!

Camaradas, no momento em que leres estas linhas estarei num de 4 locais:
- No aeroporto da Portela, a berrar com um funcionário da Groundforce
- No voo 6621 da Iberia, finalizando mais um quadro de Sudoku
- Em Havana, de charuto na boca e a pedir mais um Mojito
- No fundo do oceano Atlântico, ainda preso à cadeira do avião e com um tubarão a comer-me o tórax (neste caso, agradecia que informassem os meus herdeiros legais da existência de um seguro de vida, no valor de 25.000€, que servirá para pagar a dívida de jogo que contraí nos combates de cães do Montijo).

domingo, setembro 9

Férias de sonho

Férias e Algarve são sinónimos, no léxico da gastadora classe média portuguesa.
Parece que as pessoas interiorizaram bem o slogan “Vá para fora cá dentro”. Contudo, devo lembrar que o “cá dentro” não se resume a Armação de Pêra, Albufeira ou Vilamoura. Os mais distraídos façam favor de pôr as vistas no verde Minho, no profundo Trás-os-Montes e nas tripas à moda do Porto.
Deixem ver se entendi bem: o paradigma das férias perfeitas passa por alugar um T2 por 200 contos numa cidade densamente povoada, fritar numa praia onde há mais pessoas que areia e pagar a sardinha ao preço do ouro em restaurantes de qualidade duvidosa?
Será isto um sonho, ou um daqueles pesadelos à Fernando Santos?

quarta-feira, setembro 5

Futebol Paixão

Sporting versus Belenenses
3ª jornada da Liga BWIN, 2 de Setembro de 2007

Estamos na segunda parte e os bravos leões dominam os 10 pastéis que restam em campo. A grande penalidade falhada por Moutinho parece indiciar o pior, pois o tempo corre e o resultado permanece como começou.
Nisto, a escassos 10 minutos do final da partida, Vukcevic escapa-se pela esquerda e cruza a bola “redondinha” para a cabeça do “Levezinho” que não enjeita a oportunidade, rematando forte e colocado. Marco Gonçalves ainda se estica mas é tarde, a bola já cruzou a linha de golo... a rede balança e o estádio explode!
Pude finalmente virar-me para trás e contemplar a adepta do Belenenses que, mesmo no meio da lagartada, não se tinha coibido de agoirar durante todo o encontro, por entre gritinhos estridentes de satisfação sempre que os de verde rematavam ao lado. Quase nem tive tempo de berrar “toma puta!” pois dei por mim esmagado por um forte abraço de um gordo barbudo e de um senhor que clamava extasiado “O homem é bom! O homem é bom!”
E viva o Futebol!