Música maestro!

A música clássica impressiona-me pela monumentalidade, pela perícia dos executantes e pela coordenação necessária para os dirigir. Surge assim a figura do maestro, em teoria, como elemento fulcral para comandar as hostes.
Contudo, a demonstração com que fui brindado recentemente no pavilhão desportivo de uma escola secundária, revelou alguns segredos da estranha arte de comandar uma orquestra filarmónica.
O maestro, um quarentão de pouco cabelo e óculos à Bollöni, mais parecia um pasteleiro brincando com o rolo da massa. Durante toda a actuação limitou-se a suar, gesticular aleatoriamente e agitar a batuta sem regra. No final, abarbatou-se aos aplausos com uma vénia medieval.
Começo enfim a entender o porquê de chamarem “maestro” ao primeiro diamante do complexo Caixa Futebol Campus, Rui Costa.

Às armas!

O final do serviço militar obrigatório constitui uma boa oportunidade para nos esquivarmos a dormir com 20 burgessos numa camarata, após termos corrido até à exaustão num campo minado, tomado um banho colectivo de água fria e descascado batatas para o jantar.
Porém, há certos indivíduos que insistem em puxar este tema, apesar de já morto e enterrado. “Já foste tratar do adiamento?” é uma das perguntas com que sou atacado de quando em vez. Qualquer tentativa de argumentar que a tropa é só para quem quer, dá origem a respostas agressivas: “Depois não digas que não te avisei, faltar à recruta dá cadeia!”.
Registe-se a coerência dos nossos camaradas, que insistem em apresentar-se na avenida de Berna para jurarem bandeira, local onde são gentilmente convidados a regressar à vida civil.
Cá para mim toda esta paranóia não passa de uma fantasia sexual recalcada onde tropas de elite, vietnamitas de 11 anos e NAPALM interagem num cenário apocalíptico.

"Ganda" melão

Ir fazer compras ao hipermercado é um acto que se está a banalizar na minha vida. Cada regresso à superfície de consumo implica uma paragem obrigatória na secção das frutas e legumes.
A passagem por este espaço saudável é uma boa oportunidade para adquirir melão, a sobremesa ideal para completar uma refeição em período estival.
Frequentemente abeiro-me do expositor onde figuram dezenas de exemplares e tomo o meu lugar na cena.
Poucos instantes após ter pegado num melão surge, vindo sabe-se lá de onde, um senhor na casa dos sessenta, de camisa aos quadrados desabotoada até meio.
“Amigo, deixe-me dar-lhe uma ajuda” – tem por hábito dizer em voz doce – Viro-me e fito a personagem.
O sujeito arranca-me o melão das mãos e começa uma busca frenética por um melhor e mais suculento. O processo tem muito que se lhe diga, assim como as caretas que a personagem faz quando apalma e comprime mais um fruto. No final, estende-me o melhor melão do mundo e diz: “Leve este, é docinho”.
O meu pai diz que "os jogadores brasileiros são como os melões, é preciso abrir para ver como são". Não podia estar mais certo, pois na maioria dos casos o melhor melão do mundo rapidamente se transforma num "ganda" melão, para o desgraçado que o comprou.

O caso Mateus

Enquanto os processos “Casa Pia” e “Apito Dourado” repousam em águas de bacalhau, os nossos dirigentes trataram de fabricar mais uma peça teatral, com verdadeiros contornos de tragicomédia.
O “nosso” Mateus é figura central na trama e, tal como Francis Obikwelu, um dos mais talentosos desportistas de Viana do Castelo.
Após uma excitante passagem pelo Lixa com um contrato de contínuo, foi visto pelos olheiros do Gil Vicente como um futebolista de mão-cheia, o novo Eusébio... agora, devido às trapalhadas do “Major das batatas” e dos dirigentes gilistas, arrisca-se a ser recambiado para os escalões inferiores, deixando o histórico Belenenses entre os grandes à boa moda portuguesa, via secretaria.
Como as dúvidas se avolumam e o tempo urge, sugiro a introdução de algumas medidas que solucionem rapidamente esta problemática:
- Relegação do Gil Vicente às distritais e promoção automática do Cova da Piedade à liga Bwin;
- Linchamento em pelourinho de António Fiúza, através do arremesso de duas dúzias de pastéis de Belém;
- Restyling do actual símbolo de Barcelos – o galo – reencarnado na gloriosa águia Vitória*.

* Milhafre esfomeado que, nos dias em que o Benfica joga em casa, percorre o estádio da Luz em busca de carne putrefacta.

Escolhas difíceis

Sejam bem-vindos à sociedade da liberdade, da tolerância e do respeito.
Para quem não sabe, os brancos e os pretos são da mesma cor; a homossexualidade não é uma doença mas um comportamento equiparável à dualidade macho-fêmea reinante; um curso superior de nada vale, o que realmente conta é fazermos algo de que gostamos; para além disso, o strip é uma expressão artística nobre, nada tem de promíscuo, nem mesmo a modalidade de 75€ do Photus, denominada “kontact”.
Talvez seja por isso que, se dermos a escolher a futuros papás um filho branquinho, namoradeiro e gestor de empresas ou um mulato analfabeto, homossexual e stripper, estes ficarão, naturalmente, assaltados pela dúvida, não é assim?