domingo, março 23

Terrorismo amador

Tal como o saneamento básico, a profissionalização ainda não chegou a muito sítio. O lindo resultado já se viu na arbitragem, assiste-se agora a um fenómeno semelhante na indústria genocida.
Isto de ter amadores a planear e executar carnificinas nas grandes capitais europeias está decididamente na ordem do dia. Contudo, a maioria dos engenhos nem chega sequer a deflagrar e os que explodem raramente provocam mais do que uma dezena de mortos.
Fico triste ao constatar que não são só os políticos a prometer e não cumprir. Os profetas do novo Islão são peritos na arte de inflamar os seus séquitos com preces apocalípticas de terror gratuito, porém tentar espalhar o medo com telefonemas do género: ”Vamos matar muitos inocentes mas, se quiserem desarmar a bomba, está no Ford Escort junto à estação de Picadilly” é brincar à Jihad o que, na minha modesta opinião, se torna extremamente embaraçoso para a causa.

domingo, março 9

O bluff do bluff do bluff

O poker é muito mais do que o divertimento de cowboys batoteiros ou a perdição de casino de um chefe de família aposta o que não tem. A génese do vício é fundada nas infinitas possibilidades de vitória de quem possui um mão medíocre, pois este jogo não se resume a um mero exercício probabilístico.
Surge assim o bluff como a encenação que induz o nosso adversário a elaborar cenários errados quanto à valia das cartas que nos saíram em sorte.
A aplicação descontrolada da táctica do bluff gera um contra-ataque sintomático, basta inverter o modo de interpretar os indícios: “se ele me está a dar a entender que tem bom jogo... é porque não tem”.
Para colmatar este problema, surgiu o bluff do bluff, a reacção inteligente à mentira compulsiva: voltar ao comportamento primário para iludir aqueles que pensam que estamos a fazer bluff.
Pessoalmente, e após ter já jogado contra leigos e entendidos, tornei-me num devoto pregador do bluff do bluff alternado com o bluff do bluff do bluff. Ainda assim, sou demasiadas vezes apanhado em falso por indivíduos pouco versados nestes mind games.

sábado, março 1

O poder do caseiro

Comer fora de casa é uma experiência que, consoante a escolha do local, se pode tornar numa agradável decisão ou numa atitude imprudente.
Dado que se generalizou a preocupação com a qualidade e frescura dos géneros alimentícios, os dignatários da hotelaria nacional não tiveram outra opção que não dotar as suas lides com um chavão que garantisse simultaneamente a integridade e qualidade dos preparados.
Mencionar “caseiro” é por isso avalizar sob palavra de honra que o bem servido é possuidor de atributos que farão corar o mais zeloso fiscal da ASAE.
Pessoalmente, confio a 100% nos processos mecanizados que a Revolução Industrial introduziu... Admitamos por momentos que “caseiro” esteja associado àquele pratinho de barro onde somos presenteados com um bacalhau “posta alta” a escorrer em azeite ou a um caldo verde ainda a fumegar, aprimorado com o bom chouriço do Alentejo. Como explicar então a supostamente “caseira” salada de frutas onde, por entre muita pêra e maçã, encontramos pedaços de pêssego em calda?