sábado, outubro 20

Suicídio

Atendendo às preocupações de inúmeros chefes de família que, “de corda ao pescoço”, se aventuraram a comprar habitação própria, preparei as seguintes escapatórias, potenciadas pelas recentes subidas da taxa de juro:

Opção 1: Ingestão de comprimidos
Trata-se de um procedimento um pouco old-fashion e mais destinado a desgostos amorosos na adolescência. Pode tornar-se ineficaz quando usadas doses comedidas de medicamento, facilmente removidas por uma endoscopia.

Opção 2: Enforcamento
Um método bastante educativo, pois envolve a busca de uma corda resistente e de alguma engenharia nos preparativos. Aporta algum sofrimento, mas acaba por compensar.

Opção 3: Salto de local elevado
Uma escolha extremamente barata e que provoca sensações fortes. A preferência deve ser dada a viadutos sobre auto-estradas, pois a redundância do acto será assegurada por um atropelamento vigoroso.

Opção 4: Salto para linha a comboio/metro
Uma abordagem desaconselhável a menores de idade devido à brutalidade envolvida e à perícia necessária para evitar que o exercício não acabe com apenas uma perna amputada. Destaque para o final orgásmico, quando ao trilhar se junta electrocussão.

Opção 5: “Tiro nos cornos”
Uma solução excelente para militares e afins, que recorre à polivalência da arma do dia-a-dia. As probabilidades de insucesso são diminutas, estando quase sempre associadas a posteriores estados vegetativos.

terça-feira, outubro 2

Cuba, dia XV - Havana, aeroporto internacional

E pronto, acabou-se o que era doce. Tal não significa que a aventura se tenha já esgotado, pois quem inicia uma viagem de um dia e meio, cansado, carregando bagagens e efectuando escalas, sabe que tudo pode ainda acontecer.
Deixo Cuba com a certeza de que cada peso foi bem gasto (excluindo talvez aqueles charutos “supostamente genuínos”) e com vontade de partir em breve para novas paragens.
Conheço uma máxima que alerta: “ se não queres que ninguém saiba, não o faças”, a qual tive o cuidado de adaptar para: “se não queres que ninguém saiba, pelo menos não o escrevas”. Eis o porquê das memórias dos últimos dias terem sido apenas parcialmente registadas...

segunda-feira, outubro 1

Cuba, dia XIV - Varadero, bar “Mojito” do hotel Palma Real

Começo a lamentar profundamente não ter trazido o corta-unhas comigo. Dedicar-me à escrita com garras de falcão não é, estou certo, a minha especialidade.
Ontem à noite envolvi-me num jogo de “pool” com Leona, uma irlandesa de estatura elevada e sensualidade subliminar. Para mal da minha reputação como grande promessa dos bilhares da Cova da Piedade, fui copiosamente derrotado.
Vencido e convencido, ofereci à minha nova amiga uma bebida, comportamento que não se revelou extremamente oneroso dado estarmos num hotel de “bar aberto”.
Juntou-se entretanto à conversa um casal germânico que pronunciava apenas meia dúzia de palavras em inglês, e uma escocesa que conhecia alguns termos em alemão.
Acabou por ser naturalmente a linguagem gestual a ditar as regras e a tornar a noite bem animada.